segunda-feira, 19 de maio de 2008

80's

Nada como uma arrumação na papelada velha para você descobrir recuerdos absurdos do seu passado.

E não é que eu achei?!?

Vou contar um historinha para chegar no tal recuerdo que achei.

Nos anos 80 eu era um azougue, fervia pencas, mas pencas mesmo.
Era amigo dos artistas plásticos da Geração 80, dos novos estilistas (Marcelo DeGang, Liquidificadoidos, Nefelibato...), dos novos músicos, dos novos djs, participava de perfomances no Parque Lage, tinha carteirinha de sócio do Crepúsculo de Cubatão, fazia dança virado para a parede, tinha mesa cativa no Cochrane, ia no Morro da Urca ver os shows das novas bandas de rock brasileira, me vestia daquela maneira, entre outras loucurinhas. As pessoas eram muito inquietas e animadas. Era um novo tempo, novas descobertas mesmo, não tinha revival. Era ali-agora-naquela-hora. Várias pessoas incríveis circulavam por ali tipo Andrea Franco, Giovanni Bianco, Claudio Brás, Claudio Martins, Claudia Kopke, Lucinha Karabtchevsky, Guilherme Fiúza, Leonilson e mais um tanto de gente.
As performances bombavam na época.
Não tinha essa de modelo (profissão) certo. Todo mundo era modelo e eu me incluía nisso, ou melhor me incluiam e eu topava!

Participei de três desfiles, sendo dois deles tipo performance:

1) No Parque Lage onde carregava a filha da Ursula e do Crocher (donos do Crepúsculo e do bar Cochrane) vestindo Marcelo DeGang e sapatos Nefelibato. A roupa era negra, claro, tipo um sobretudo, camisa, calça, e sei lá mais o que. O pisante era uma bota de bicos finíssimos e muito pontudas, quase Aladim. Eu fazia uma entrada sozinho, meio dramática com a criança no colo. Quando chegava no final da passarela (que foi montada em cima da piscina e era bem alta e muito comprida) eu tinha que girar a criança - uma pequena princesa loira de cabelos compridos - como se fosse soltá-la no ar. Simples assim. Meu maior medo era o tal cabelo loiro e comprido se enroscar no meu braço e dar uma tremenda zica na evolução toda. Por sorte a ninfa era bem levinha. Fiz, sabe Deus como, mas fiz. Ainda bem que o camarim era beeem abastecido. Só para ter uma idéia esse desfile todo durou mais ou menos 1h! Era tanta entrada que não terminava nunca. Bem performático. Soube que o Aloisio viu esse desfile e o danado lembra de tudo inclusive da trilha que era Propaganda cantando Duel.

2) No bar Suburban Dreams na Cinelândia. Montaram uma passarela em frente ao bar na calçada. Detalhe que nesse dia rolava um showmício bem ali na Cinelândia mesmo, em frente à Câmara. O tal bar, Suburban, ficava num bequinho do outro lado da Rio Branco. Meu modelo também seria do Marcelo DeGang. Só que ele esqueceu da roupa em si e achou por bem que eu entrasse vestindo apenas a minha cueca, que era preta. Tipo Tupinambá na Terra Encantada versão The Smiths. Prá arrematar o look uma bóia tipo pneu atravessada no ombro e uma sandália franciscana preta. O make, sim com make e de cueca, era bem preto nos olhos e o cabelo uma loucura prá cima atochado de gel prá firmar, sabe? Vale comentar que na época eu tinha grandes cachos. Diria que eu era uma presença discreta, simples e masculina. O quadro da dor. O público que assisitia em pé na rua era uma mistura de modernos da época e transeuntes do tal manifesto político. De novo me "deram de presente" uma entrada sozinho. Entrei tão em outra que não lembro dos chochos. Só lembro que voltei para o camarim que era dentro do bar e que-já-tinha-virado-boate-faz-tempo todo mundo comemorou. Rogério S. e Liana Padilha estavam no casting. Fase dark mas feliz de todo mundo.

3) Trabalhei um tempo numa loja de jeans conhecida na época, mas que hoje já fechou. Rolavam na fábrica uns desfiles tipo show-room para compradores e mais um povo da moda em si. Naquela época não tinha semana de moda certa. Era tudo solto. Sei que numas dessas estava eu lá no camarim e um modelo (nesse chamavam modelos de verdade, pagos, com agência) não apareceu e tinham alguns looks que não davam para conciliar com os outros meninos, enfim coisas de entradas e saídas da passarela. Encurtando, me convocaram. Eu de solto, fui. Esse camarim era bem desanimado.

Isso tudo para mostrar essas duas imagens aí embaixo:

Eu "posando" no jardim da Quinta da Boa Vista para alguma coisa do Marcelo DeGang. Não me lembro nem por cachê o que era. Mas lembro da situação em si, da Andrea Franco na produção, do Marcelo com as araras de roupa para cima e para baixo na Quinta e de novo dos transeuntes. Ano de 1984 ou 85.


O tal do desfile na fábrica do jeans. Eu com os pés bem tortos e para dentro fazendo a parada final do desfile com todos os outros modelos. Cintura alta, eu digo. Texto da Iesa Rodrigues, JB, Caderno B. O ano é 1987.


Bem cara-de-pau.

Vinte anos depois me tornei um pacato cidadão.

5 comentários:

Superbacana Djs disse...

tres pivôs e abre a manga morcego!

Renato disse...

Fiu fiu... Querennnnn... Amei! Palmase mais palmas!

DRK disse...

beeeee! Kuén!!!

Eu também tive a minha fase "modelo e manequim"" nos 80's...abafe the case.

Anônimo disse...

Eu fervi muito no Suburban Dreams e no Cochrane. Putz, totalmente mesma sintonia. :)

DEGANG + KVALO disse...

Menino nem eu lebrava de tanta coisa. No desfile do Parque Laje você entrou com roupas da Transfigura se não me engano e realmente no Suburban você ficou de cuecas fazendo o estilo bofão pos praia, sendo disputado por tres mulheres, uma delas Ursula a dona do Bar e do Cochrane. As fotos na Quinta daBoa Vista eram para um catalogo, eu acho.
Um luxo esta epoca tão querida.
Beijões e obrigado pelas boas lembranças.